quarta-feira, 23 de julho de 2008

um

De manhã, acordei com uma dor de cabeça associada a uma dor de barriga monumental e a uma dor de ausência completa e peluda como as mãos do meu peluche urso vermelho de infância cor de chão. Os lençóis enrolados no edredão, eu enrolado em ambos, o cheiro a tabaco a emanar da roupa no chão e da barba, o sabor indefinido a seco e algo que definitivamente poderia ser melhor na boca, o latejar ritmado na cabeça a fazer lembrar que nunca ouvi nada assim e que preferia ficar na mesma ignorância, as cãibras nos dedos dos pés. Se calhar amanhecer até é bonito… mas acordar?
Ali no meio, nas pontas de bailarina da minha cama, sozinho, acordei a pensar em como devia dormir mais. Era isso o que devia fazer, dormir mais. Não pelo dever de ser humano para com o repouso, nem como um dever de saldo a uma determinada entidade que o controlava, mas por dever a mim mesmo um não pensar desconexo durante o sono em vez de um sonhar desconexo acordado que tanto me preenche o cansaço. Mas a agonia dolorosa dos ais não me permitiu cumprir esse épico dever, logo acordei definitivamente. Até ao momento.

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